TERCA, 01/06/2021, 16:37

Pelo menos 17 pessoas participaram de "fura-fila" na vacinação contra o coronavírus em Apucarana, aponta denúncia do Ministério Público

Situação veio à tona após prisão de mulher que se passou por técnica de enfermagem para desviar doses. A acusada e os demais investigados, entre eles o ex-coordenador da campanha na cidade e os vacinados indevidamente, foram denunciados criminalmente pela promotoria por peculato.

Dezessete pessoas foram denunciadas criminalmente pelo Ministério Público (MP) por participação no suposto esquema de "fura-fila" descoberto na campanha de vacinação contra o coronavírus em Apucarana, no norte do estado, no mês passado. A ação foi apresentada à Justiça na segunda-feira (31). A situação veio à tona após a prisão da cuidadora de idosos Silvania Ribeiro Del Conte, acusada de se passar por técnica de enfermagem para participar como voluntária da campanha e, assim, ter acesso às doses. Ela teria desviado pelo menos doze unidades da AstraZeneca, que, de acordo com a denúncia, foram utilizadas pela suspeita para vacinar de forma indevida pessoas de uma mesma família. Depois de ser detida, Silvania revelou ainda que teria presenciado outras situações de "fura-fila" enquanto trabalhava durante a campanha. A polícia e o MP conseguiram comprovar pelo menos uma delas: o filho de um técnico de enfermagem teria recebido a vacina em uma clínica de idosos de Apucarana mesmo não sendo de nenhum grupo prioritário. A dose, conforme a denúncia, teria sido aplicada por Luciano Pereira, servidor de carreira da prefeitura e, até então, coordenador da campanha de vacinação. Ele, que nega todas as acusações, foi afastado do cargo e responde a uma sindicância na prefeitura.

Segundo a promotora Fernanda Silvério, responsável pela denúncia, respondem por peculato e infração de medida sanitária Silvania, Pereira, o técnico de enfermagem que intermediou a vacinação do próprio filho, a dona da clínica de idosos onde ocorreu o "fura-fila", e as treze pessoas vacinadas de forma indevida.

Para os vacinados, o Ministério Público propôs um acordo de não persecução penal, mediante o pagamento de prestação pecuniária de R$ 22 mil por cada um dos réus. Ou seja, quem aceitar pagar o valor se livra da acusação. A promotora garantiu ainda que as investigações continuam, e que os outros casos de "fura-fila" revelados por Silvania estão sendo apurados.

O Ministério Público também continua investigando se Silvania realmente não recebeu nenhum valor financeiro em troca da aplicação das doses.

Além da condenação criminal, a promotoria requereu que o coordenador da Vigilância Epidemiológica seja afastado da função pública e proibido de manter contato com as testemunhas do caso, além de ter acesso às dependências da Secretaria de Saúde de Apucarana e demais locais de vacinação. Por meio de seu advogado, Luciano Pereira negou todas acusações, disse que só cumpriu o que estava no cronograma de vacinação estabelecido pela secretaria, e que as situações de "fura-fila" foram inventadas por Silvania.

A promotora lamentou a descoberta do esquema, ainda mais, conforme ela, quando se é levada em conta a situação de escassez das vacinas contra o coronavírus registrada em todo o país.

Por Guilherme Batista

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