SEGUNDA, 26/08/2019, 06:59

População cresce, mas número de leitos pediátricos da rede pública de Londrina sofre queda. Enquanto isso, rede privada dobra capacidade

Vice-presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria diz que situação é de estrangulamento, mas Secretaria Estadual de saúde garante que taxa de ocupação é baixa na maioria das unidades e que cenário é de normalidade.

De 2012 a 2019, a cidade perdeu três leitos de pediatria clínica do SUS. De 88 passou para 85. Na pediatria cirúrgica, foram mais cinco vagas. Em contrapartida, no mesmo período, os hospitais particulares dobraram sua capacidade, de 13 para 26 leitos. Considerando que a população da cidade cresceu desde 2012 e ganhou, mais ou menos, 80 mil novos habitantes, e que muitas cidades da região perderam os leitos pediátricos que tinham, a realidade só piorou.

Com larga experiência na área, o médico Milton Macedo, diretor de pediatria da Associação Médica de Londrina e vice-presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria, fala em estrangulamento da pediatria na rede pública da cidade. A situação piora no inverno com as doenças respiratórias. Com a chegada da chuva, o problema passa a ser outro, a dengue.

Segundo o pediatra, a situação fica ainda mais complexa com o encaminhamento de pacientes de outros municípios da região.

O pediatra diz que o natural seria o aumento das vagas e não a diminuição, ainda mais porque os municípios menores da região também perderam leitos pediátricos.

Outro problema, de acordo com Milton Macedo, é que às vezes o leito aparece nos números. Ou seja, existe na teoria, mas na prática não funciona, muitas vezes porque falta pessoal ou equipamentos.

O pediatra cita o desrespeito ao estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê, inclusive, prioridade nos orçamentos públicos para a área. Mais uma dificuldade é a desvalorização dos profissionais da especialidade e a baixa remuneração das unidades de saúde, que recebem valores cada vez menores por procedimentos e internações.

Milton Macedo cita ainda outros dois aspectos que contribuem para esse cenário, a má gestão e os desvios, que para ele, não vêm sendo apurados com agilidade. Segundo o médico, o único quesito em que a cidade melhorou é na quantidade de vagas nas UTIs pediátricas e neonatais, mas acrescenta que o problema da falta de profissionais se repete também nesse caso. 

A Secretaria Estadual de Saúde garante que o estado vive uma situação tranquila nesse quesito. O diretor de Gestão em Saúde da pasta, Vinicius Filipak, cita a inversão na pirâmide etária brasileira nos últimos anos, com a queda nas taxas de natalidade, como um dos fatores que explicam essa redução na quantidade de leitos pediátricos.

O diretor de Gestão em Saúde diz que, em função da população do estado, 11 milhões de habitantes, o mínimo de leitos de pediatria necessários seria de pouco mais de 1.800. E o estado tem hoje 2.440.  Em relação às vagas de UTI pediátrica, Filipak diz que são 172 hoje, quando a quantidade mínima recomendada seria de 80 leitos.

De acordo com o diretor, não há risco de uma crise de atendimento na área, já que a taxa de ocupação nos leitos comuns e nas UTIs pediátricas do SUS aqui do estado gira em torno de 25% e 60%, respectivamente.

O diretor da Secretaria de Saúde explica ainda que nos hospitais de maior complexidade, que têm serviços mais especializados, as taxas de ocupação aumentam e chegam a 70%, 80%, mas, mesmo assim, garante Filipak, a capacidade instalada da rede estadual é suficiente para atender a demanda.

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