QUINTA, 23/01/2020, 14:33

Prefeito de Ibiporã sabia de esquema criminoso de venda de túmulos, diz Ministério Público

Após análise de documentos e provas, promotoria identificou possível participação do chefe do Executivo no caso e precisou enviar processo ao Tribunal de Justiça, o órgão responsável por investigar agente público com foro privilegiado.

A investigação policial feita pela Operação Necrópole, que desbaratou um esquema criminoso de venda túmulos do cemitério municipal de Ibiporã em outubro do ano passado, foi encaminhada ao Tribunal de Justiça do Paraná. O promotor Bruno Vagaes, que cuidava do caso até então, precisou fazer o encaminhamento depois de identificar a possível participação do prefeito de Ibiporã, João Coloniezi, do PMDB, no esquema. Ele explica que, como o chefe do Executivo tem foro privilegiado, é preciso que o TJ dê andamento à investigação a partir de agora. Vagaes conta que identificou a possível participação do prefeito analisando depoimentos e provas coletadas pela operação. Uma das conversas analisadas é entre o funcionário de uma das funerárias envolvidas e o então diretor do cemitério de Ibiporã, Paulo Ribeiro, considerado o chefe do esquema. Conforme o promotor, o funcionário teria dito que estava preocupado para Paulo, que respondeu que era para ele ficar tranquilo porque o João da Caixa, nome público do prefeito, sabia de tudo. Outro ponto que causou estranheza ao promotor é o pedido de ajuda financeira feito por Ribeiro ao prefeito assim que ele é preso pela operação. Vagaes lembra que não há prova material de que Coloniezi tenha sido beneficiado de alguma forma pelo esquema, mas destaca que, no mínimo, o chefe do Executivo foi omisso, uma vez que, conforme testemunhas, ele sabia o que estava acontecendo e, apesar disso, não fez nada para apurar as irregularidades.

A Operação Necrópole foi realizada pelo Núcleo de Combate à Corrupção da Polícia Civil em três de outubro do ano passado. No dia, 50 mandados foram cumpridos. Treze pessoas foram presas. A organização criminosa, conforme as investigações, fazia a remoção de restos mortais dos jazigos sem a autorização dos familiares e os revendia para terceiros. Algumas das ossadas, inclusive, foram encontradas escondidas no escritório administrativo do cemitério. Os valores exigidos pelos túmulos variavam entre dois mil e 22 mil reais. O esquema, ainda conforme a polícia, contou com a participação de agentes públicos, laranjas, que se passavam por donos dos túmulos, coveiros e funcionários de funerárias. O promotor de Ibiporã espera, agora, que o Tribunal de Justiça desmembre o processo, e que os fatos não relacionados ao prefeito sejam devolvidos para a comarca. Ele adianta que deve denunciar criminalmente os acusados.

Em nota, o prefeito de Ibiporã, João Coloniezi, informou apenas que ainda não foi notificado sobre a citação no processo, e disse que só vai se manifestar após ter acesso às informações oficiais do caso.

Por Guilherme Batista

Comentários