Após doze horas de audiência, homem é condenado a mais de 20 anos de prisão por tentativa de feminicídio, ameaça e lesão corporal, acusado de espancar e asfixiar a ex-companheira em Londrina
Caso, de abril de 2019, gerou uma grande comoção na cidade e reforçou ainda mais o alerta contra a violência doméstica. Após ataque, vítima ficou tetraplégica e sem fala.
Emerson Henrique de Souza, acusado de espancar e asfixiar a ex-companheira Cidneia Aparecida Mariano em Londrina em abril de 2019, foi condenado a 23 anos de prisão no regime fechado por tentativa de feminicídio duplamente qualificada, lesão corporal e ameaça. O Tribunal do Júri do réu foi realizado nesta quinta-feira (4) na cidade e durou quase doze horas. O acusado chegou ao Fórum, na avenida Tiradentes, em uma viatura do Depen, escoltado pela Polícia Militar. A chegada dele foi acompanhada por amigos e parentes da vítima e integrantes do movimento feminista de Londrina, que realizaram uma manifestação no local. Com faixas e cartazes, o grupo pediu por justiça e relembrou os outros inúmeros casos de violência contra a mulher.
Durante a manhã, foram ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação. Familiares e amigos da vítima depuseram contra o suspeito, dizendo que Cidneia sempre foi ameaçada e agredida por Emerson. No caso mais grave, a mulher estava grávida de dois meses e abortou a criança após levar uma surra.
As testemunhas confirmaram que Emerson teria feito uma emboscada para Cidneia no dia do último ataque, quando ela foi agredida quase até a morte e abandonada por ele no distrito da Warta, na zona norte. A mulher passou dois meses em recuperação no hospital e, hoje em dia, vive o tempo todo em cima de uma cama, 100% dependente da família. A agressão brutal a deixou tetraplégica e sem fala.
O réu também foi interrogado durante a audiência, mas apenas pelos advogados de defesa. Ele apresentou a versão de que teria saído com Cidneia no dia do ataque, e que a teria agredido depois de ser provocado. Emerson citou uma suposta traição cometida pela ex-companheira para justificar a sua atitude.
Depois do interrogatório, acusação e defesa tiveram 1h30 cada para as chamadas considerações finais. O advogado da família de Cidneia, João Gomes, relembrou o histórico do réu, que já respondeu por homicídio em Cornélio Procópio, e rebateu os argumentos sobre a suposta provocação, dizendo que seria inadmissível buscar meios para culpar alguém que, claramente, é a vítima da situação.
Já os advogados de defesa se revezaram para reiterar que a agressão só aconteceu porque Emerson teria sido estimulado por Cidneia. Eles chegaram a reproduzir mensagens de áudio com as tais provocações e a mostrar parte de laudos médicos que, na avaliação dos defensores, comprovariam que os ferimentos causados pela agressão seriam relativamente leves.
O promotor Ricardo Domingues, que ofereceu a denúncia contra o acusado, também usou a palavra. Ele disse que a defesa omitiu parte do diagnóstico médico, que comprova que a asfixia causou as sequelas de Cidneia, e outras evidências sobre a gravidade dos ferimentos ocasionados pela agressão. Ele também criticou o fato de a defesa ter se utilizado do material com as supostas provocações de Cidneia para tentar convencer os jurados de que ela também teria sido responsável pelo que aconteceu. Na avaliação do promotor, nada poderia justificar a atitude tomada pelo réu.
Depois das explanações, os jurados deliberaram sobre o caso, e consideraram, por maioria de votos, Emerson culpado de todas as acusações.
Shirley Mariano, que é irmã da vítima e acompanhou de perto os rumos da audiência, disse estar aliviada com o veredicto. Para ela, a justiça foi feita.