QUARTA, 23/03/2022, 07:51

Câmara volta a ignorar a própria assessoria jurídica e aprova, em regime de urgência, projeto que proíbe que pessoas sejam obrigadas a se vacinar contra o coronavírus em Londrina.

Estabelecimento, público ou privado, que exigir comprovante de vacinação de frequentadores, poderá sofrer sanções administrativas. 

Mais um projeto de lei considerado inconstitucional pela assessoria jurídica da Câmara Municipal de Londrina foi aprovado pelos vereadores durante a sessão desta terça-feira (22). Assinada por nove dos 19 parlamentares, a polêmica proposta quer proibir que as pessoas sejam obrigadas a se vacinar contra o coronavírus na cidade. A matéria, de autoria da bancada conservadora do Legislativo, atende a um pedido feito por grupos que foram formados na cidade para exigir que o poder público não interfira no direito de escolha das pessoas em relação à vacinação e também ao uso de máscaras de proteção contra a Covid-19.

O projeto também é uma “resposta” a uma recomendação administrativa do Ministério Público (MP), que enviou ofícios às prefeituras de Londrina e de Tamarana, no início deste mês, pedindo para que as escolas públicas exijam a carteirinha de vacinação dos estudantes no momento da matrícula.

A matéria entrou na pauta em regime de urgência durante a sessão desta terça. Por conta disso, os trabalhos tiveram que ser suspensos por mais de oito horas para que as comissões permanentes da Casa analisassem o teor do projeto. A votação só ocorreu depois das onze horas da noite. Apesar do parecer contrário da assessoria jurídica, a Comissão de Justiça da Câmara emitiu posição favorável à proposta. A relatora da comissão, vereadora Lu Oliveira, citou o momento de tranquilidade em relação ao coronavírus, a Constituição e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que deu autonomia aos municípios na gestão da pandemia para justificar a decisão.

Já as comissões dos Direitos Humanos e de Seguridade Social do Legislativo emitiram pareceres contrários ao projeto. A presidente da Comissão de Seguridade, vereadora Lenir de Assis, criticou o fato de a proposta ter sido discutida em regime de urgência, sem nenhum tipo de análise ou estudo técnico que a embasasse. 

O projeto de lei aprovado em primeiro turno quer evitar que os não-vacinados sofram “discriminação ou preconceito” no município. Para isso, a matéria proíbe os estabelecimentos, tanto os públicos como os privados, de restringirem a entrada das pessoas levando em conta se elas se vacinaram ou não contra o coronavírus, e de exigirem o chamado passaporte sanitário. Atualmente, em todo país, muitas empresas têm exigido que os funcionários se imunizem contra a doença. Determinados estabelecimentos comerciais, além de apresentações culturais e shows musicais, também criaram o costume de permitir a entrada apenas de quem tomou ao menos duas doses da vacina. O projeto prevê, ainda, punições e sanções administrativas ao espaço que continuar exigindo a obrigatoriedade da vacinação, e proíbe empresas de demitirem trabalhadores que não querem tomar a vacina.

No parecer “ignorado” pelos vereadores, a assessoria jurídica da Câmara considerou que o município tem competência para adotar o passaporte sanitário, determinando, de forma indireta, a vacinação obrigatória, com base em uma lei federal que trata das medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. Ainda segundo o parecer jurídico, o Supremo Tribunal Federal considerou a referida lei como constitucional ao impedir a vacinação forçada, mas admitir restrição ao exercício de certas atividades e frequência a determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes. Desta forma, a assessoria jurídica avaliou que o projeto de lei que tenta proibir o passaporte é inconstitucional e ilegal.

Apesar disso, a matéria foi aprovada em primeiro turno na forma de um substitutivo, com 15 votos favoráveis, e volta a ser discutida, em segundo turno, na próxima semana, após prazo para apresentação de emendas.

No período de justificativas de voto, a vereadora Sônia Gimenez saiu em defesa da colega Lenir de Assis, que foi vaiada pelos presentes nas galerias. Já a vereadora Jessicão, uma das autoras do projeto, disse que a proposta trata de liberdade e não de saúde pública.

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