TERCA, 19/07/2022, 19:13

Religião e Política: uma relação perigosa e que parece ter voltado com força nestas eleições

Textos que misturam discurso religioso e político têm se tornado cada vez mais comuns nas redes sociais, o que, na avaliação de professor, revela uma confusão entre o público e o privado e mostra uma dicotomia entre eleitos e pecadores.

Na mensagem que circula pelos grupos de aplicativos, e que o autor chama de oração, o discurso religioso, de tom apocalíptico, deixa bem clara a relação. O texto fala em Deus, misericórdia, pecados, anjos e uma certa legião do mal, e também usa palavras como nação, eleito e governar para estabelecer essa conexão entre o divino e o terreno. E ao final, claro, pede que a mensagem seja compartilhada com os amigos apoiadores do candidato.

Na história da Humanidade, Política e Religião estiveram juntas em muitos momentos. No ocidente, principalmente até a Idade Média. E antes mesmo das religiões existirem, o divino já era instrumento de manipulação dos poderosos.

O professor de Ética e Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina, Clodomiro Bannwart, destaca nestas mensagens uma clara divisão, uma dicotomia entre os eleitos, os santos dentro dessa visão religiosa da política, e os pecadores.

Para o professor, fruto da nossa tradição judaico-cristã e da nossa história colonial, mas uma afronta aos princípios modernos de soberania popular presentes na Constituição brasileira.

Clodomiro Bannwart diz ainda que mesmo com a proclamação da República, o país seguiu com um déficit de soberania popular, entre as muitas rupturas democráticas que tivemos.

O professor explica que a principal conquista civilizacional da modernidade foi justamente a separação entre Igreja e Estado. Bannwart fala também em uma grande privatização das pautas públicas no país.

Ainda segundo o professor, a história do Ocidente mostra que, toda vez que há uma crise no campo da racionalidade, abre-se espaço para o misticismo e seus salvadores da pátria.

Clodomiro Banwart avalia também que vem faltando às lideranças religiosas do país um compromisso mais vinculado aos valores sociais.

As eleições majoritárias de 2022 serão realizadas no dia 2 de outubro. Se houver necessidade, o segundo turno será realizado no dia 30 de outubro.

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