SEGUNDA, 26/11/2018, 19:53

Ex-chefe do Instituto de Criminalística engavetou mais de 40 processos e agilizou perícias particulares

Informações estão em decisão judicial que condenou servidor por improbidade administrativa. Em alguns casos, pedidos passaram mais de dez anos à espera de uma resolução, que nunca veio.

A decisão da 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina contra o ex-chefe do Instituto de Criminalística na cidade, Daniel Felipetto, tem quase cinquenta páginas. No despacho, o magistrado faz questão de detalhar as perícias que, de acordo com ele, foram engavetadas pelo servidor público durante o período em que ele esteve à frente do órgão estadual. Segundo o levantamento feito pela investigação, pelo menos 40 processos passaram, em alguns casos, mais de dez anos à espera de uma resolução. Perícias em armas, objetos encontrados em incêndios, celulares, computadores, cápsulas de tiros disparados em uma série de crimes. Solicitações encomendadas por juízes de Londrina e cidades de toda a região entre 2006 e 2012, mas que, conforme a decisão, nunca foram respondidas. O juiz aponta, ainda, que há provas de que o servidor, ao mesmo tempo em que engavetava alguns processos, trabalhava pra agilizar perícias particulares, que, conforme a decisão, normalmente eram concluídas no mesmo dia. Todo o material que comprova as irregularidades foi recolhido pelo Gaeco há dois anos, durante uma operação na sede do Instituto de Criminalística em Londrina. As provas foram localizadas dentro de uma sala que Felipetto mantinha trancada no órgão mesmo depois de já ter pedido transferência e estar trabalhando em Curitiba. Até um artefato explosivo foi encontrado no local, e o esquadrão antibombas precisou ser acionado na época para desarmá-lo. A investigação do Ministério Público embasou a ação tocada pela 1ª Vara de Fazenda Pública, que, agora, na sentença proferida na última sexta-feira, condenou Daniel Felipetto por improbidade administrativa. A decisão determina que ele perca o cargo de perito da Polícia Científica do Paraná, além de multa de mais de 200 mil reais, o que corresponde a dez vezes o salário do servidor, que é de 22 mil reais por mês. Cabe recurso. A CBN procurou o advogado do perito, Ramonn Baldino Garcia, em Curitiba, mas não obteve retorno. Em depoimento à Justiça, Felipetto negou as acusações. Ele disse que mantinha a sala para guardar provas de perícias que só não conseguiu realizar de imediato por conta da falta de estrutura do Instituto de Criminalística do Paraná. Já a Polícia Científica informou, em nota, que Daniel Felipetto está afastado das funções desde abril do ano passado, quando passou a ser alvo de uma sindicância por conta das acusações. Mas, apesar do afastamento, ele continua recebendo os salários normalmente, segundo pesquisa feita pela reportagem junto ao Portal da Transparência do Governo do Estado. Ainda na nota, a Polícia Científica informou que, atualmente, o servidor passa por um processo administrativo disciplinar. A previsão é de que os trabalhos sejam concluídos em dois meses. Felipetto pode ser demitido ao final da investigação.

Por Guilherme Batista

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