SEXTA, 24/03/2017, 19:25

Fiscal que denunciou esquema investigado pela Operação Carne Fraca revela que está sob proteção policial há três anos

Segundo Daniel Teixeira, a ingerência política sempre foi um dos principais problemas da fiscalização sanitária brasileira. Para ele, a investigação ainda tem muito a revelar.

Ele foi o responsável pela denúncia que levou a Polícia Federal a investigar o que pode ser um dos maiores esquemas de corrupção da história do país. O fiscal agropecuário Daniel Gouveia Teixeira afirma que a investigação está só começando e que muita coisa ainda vai ser revelada pela Operação Carne Fraca. Segundo Teixeira, o esquema foi descoberto por ele no início de 2013, quando percebeu que diversos colegas eram transferidos de cidade, ou até de estado, sem justificativa técnica. Na época, ele era o chefe substituto da Inspeção aqui no Paraná e diz que muitos fiscais chegaram a procurá-lo para relatar o problema. Segundo ele, muitos servidores também foram processados administrativamente e acabaram pedindo transferência porque não agüentavam a pressão. De acordo com Daniel Teixeira, essa pressão era uma forma de intimidar os fiscais para que não cumprissem as normas do Ministério. Ele conta que foi um dos que acabou transferido de setor por não se enquadrar nas regras do esquema criminoso.

O fiscal conta que presenciou uma série de fraudes quando trabalhava na fiscalização e que elas tinham o objetivo, em alguns casos, de baratear os produtos. Ele revela que era assim que muitos frigoríficos conseguiam participar de licitações para fornecer até merenda escolar.

Daniel afirma que denunciou o problema ao Ministério da Agricultura no Paraná, mas o processo não foi adiante. E diz que em 2014 decidiu relatar o problema diretamente em Brasília. E logo em seguida foi a Polícia Federal, já com provas do esquema. O fiscal diz que a interferência política no Ministério sempre foi grande e que os contatos entre os chefes do MAPA e seus padrinhos políticos eram freqüentes.

O fiscal rebate as críticas do Ministro da Agricultura à Operação Carne Fraca que afirmou que a investigação se baseia apenas em dois laudos. Ele diz que o país sempre foi referência em fiscalização sanitária e acredita que ainda é muito cedo para dizer, como afirmou o Ministro, que as denúncias são pontuais e envolvem poucos produtores.

O fiscal diz que o Ministério tem uma Corregedoria e uma Ouvidoria, mas eles dependem da boa vontade do Ministro da vez para serem efetivos. Ele conta que nos últimos quatro anos a pasta foi ocupada por seis titulares. Teixeira diz ainda que está sob proteção policial há 3 anos e que chegou a receber ameaças de morte antes da Operação ser deflagrada.

Perguntado se é seguro comer carne atualmente no país, o fiscal diz que não há motivo para pânico, mas que é preciso aguardar o andamento das investigações. Teixeira explica que as fraudes estão  mais difíceis de serem detectadas e que há empresas com técnicos extremamente qualificados desenvolvendo tecnologias para tentar burlar a fiscalização.

Segundo as investigações da Operação Carne Fraca, o esquema no Paraná era comandado pelo ex-superintendente do Ministério, Daniel Gonçalves Filho, e pela chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rocio Nascimento. O superintendente regional do Mapa no Paraná, Gil Bueno, também está preso. Os três foram presos preventivamente. A Operação Carne Fraca revelou, em quase dois anos de investigação, que as Superintendências do Ministério no Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam para proteger os frigoríficos. A investigação envolve grandes empresas do setor, como a BRF, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que é dona da Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas. Mas também envolve frigoríficos menores aqui do Paraná, como Mastercarnes, Souza Ramos e Peccin, e frigorífico Larissa, que tem unidades no Paraná e em São Paulo.

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