QUARTA, 14/04/2021, 18:20

Familiares de jovem morto em suposto confronto denunciam truculência policial ao Gaeco de Londrina

Eles afirmam que Cristiano Rodrigues de Jesus foi executado por policiais durante abordagem no jardim Califórnia, e que PM também teria se usado de violência para conter protesto no dia seguinte. Polícia, por outro lado, informa que rapaz usava tornozeleira eletrônica, e que encontrou drogas e uma arma com ele.

Familiares de Cristiano Rodrigues de Jesus, morto aos 20 anos durante um suposto confronto com a polícia no jardim Califórnia, em Londrina, no último domingo (11), estiveram na sede do Ministério Público (MP) na tarde desta quarta-feira (14) para denunciar o caso. A informação divulgada pela polícia após a ocorrência dá conta de que Cristiano estava armado e teria reagido a uma abordagem. O comando da Polícia Militar (PM) chegou, inclusive, a apresentar uma arma de fogo e algumas porções de cocaína que, conforme as equipes, teriam sido encontradas com o jovem. A versão é completamente rechaçada pela família, que garante que o material não estava com ele. O pai do rapaz, Adenilson Rodrigues de Jesus, conta que o seu filho foi cercado pela polícia dentro de uma casa, e executado com diversos tiros mesmo sem oferecer nenhuma resistência. Ele também chama a atenção para o fato de os policiais terem apresentado a arma e as porções de droga apenas um tempo depois de deixarem o local.

A polícia informou, ainda, que Cristiano usava uma tornozeleira eletrônica no momento da abordagem, e que ele saiu correndo para dentro da casa quando percebeu que iria ser detido. Adenilson, por sua vez, disse que o filho respondia em liberdade por um furto que não cometeu. O homem garantiu que o rapaz era trabalhador, e reiterou que ele não estava armado no momento em que foi abordado pela polícia.

A família pede para que o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investigue a conduta dos policiais durante a abordagem de Cristiano e também no dia seguinte à ocorrência, quando as equipes se utilizaram de balas de borracha para acabar com uma manifestação realizada no bairro contra a ação policial. O grupo chegou a atear fogo em objetos e bloquear o trânsito de veículos na avenida Dez de Dezembro no final da tarde de terça-feira (13). Fernando Alfradique Scanferla, que realiza um trabalho voluntário no bairro e participou da mobilização, foi atingido por pelo menos três tiros não-letais disparados pela polícia.

Fernando já foi ouvido pelo delegado do Gaeco, Ricardo Jorge Pereira, assim como o coordenador do Movimento Nacional dos Direitos Humanos no Paraná, Carlos Henrique Santana, responsável por acompanhar a família de Cristiano até o MP. Segundo ele, a morte do rapaz é apenas uma de diversas registradas em supostos confrontos com a polícia em Londrina. Somente nos últimos dois anos, conforme levantamento da entidade, foram registradas cerca de 40 ocorrências do tipo na cidade. A maioria das vítimas, segundo Santana, é pobre, negra e moradora de bairros da periferia.

O Conselho Municipal da Igualdade Racial acompanha o caso e tem dado o suporte necessário à família do rapaz. O conselheiro Robsmar da Silva, que também esteve na sede do Ministério Público, garantiu que o órgão monitora o registro das mortes violentas já há bastante tempo.

Em nota, o comando da Polícia Militar reiterou a informação de que Cristiano só foi baleado por ter reagido à abordagem das equipes. A PM também garantiu que ele estava com porções de cocaína e uma arma de fogo, e que o suposto confronto deve ser investigado pela Corregedoria do órgão. A Delegacia de Homicídios também já abriu um procedimento para apurar o caso.

Por Guilherme Batista

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