QUINTA, 20/05/2021, 18:34

Falsa técnica de enfermagem que desviou doses contra o coronavírus diz que presenciou pessoas que não são de grupos prioritários sendo vacinadas em Apucarana, no norte do Paraná

Em depoimento à comissão da Assembleia Legislativa do Paraná, a acusada, que continua presa, afirmou que o 'fura-fila' era autorizado por servidor até então responsável por coordenar campanha na cidade. Ele foi afastado e responde a uma sindicância aberta pela prefeitura.

A cuidadora de idosos Silvana Ribeiro Del Conte, presa em Apucarana acusada de desviar dez doses de vacina contra o coronavírus, prestou depoimento nesta quinta-feira (20) à Comissão Especial de Vacinação da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Ela foi ouvida pelos deputados na sala do Tribunal do Júri de Apucarana. A oitiva foi acompanhada pelo controlador-geral do Estado, Raul Siqueira, e pela promotora Fernanda Silvério, do Ministério Público (MP), que apura o caso.

Silvana confirmou que se passou por técnica de enfermagem para trabalhar como voluntária na campanha de vacinação contra o coronavírus em Apucarana, e que, durante o trabalho, desviou dois frascos com dez doses da AstraZeneca para imunizar cinco pessoas de uma mesma família que ela conhecia.

A acusada também confirmou que, durante o trabalho voluntário, viu pelo menos quatro pessoas que não são dos grupos prioritários da campanha receberem as doses durante o drive-thru no ginásio de esportes Lagoão, o principal local de vacinação de Apucarana. A imunização supostamente indevida, de acordo com Silvana, era autorizada pelo servidor público, com 33 anos de carreira, até então responsável por coordenar a campanha em Apucarana. Depois que a acusada foi detida, ele acabou afastado da função e, atualmente, responde a uma sindicância interna na prefeitura.

Num dos casos de ‘fura-fila’, segundo Silvana, a proprietária e as funcionárias de uma academia de Arapongas, todas fora dos grupos prioritários, teriam sido imunizadas em Apucarana. Em outro, um homem de 43 anos, transplantado, foi imunizado mesmo não estando dentro da faixa-etária de 55 a 59 anos estabelecida pela campanha.

Silvana disse ainda que, antes de trabalhar na campanha, atuava como cuidadora de idosos em um abrigo de Apucarana, e que, no local, um rapaz, que não era funcionário do asilo, também foi vacinado de forma indevida. A imunização, segundo a acusada, também teria sido autorizada pelo coordenador da campanha municipal de vacinação.

As declarações da acusada corroboram o que já havia sido dito por ela em depoimento ao Ministério Público, que investiga, além do desvio de doses, as situações de 'fura-fila' na vacinação em Apucarana. O depoimento de Silvana vai compor o relatório final da comissão especial da Assembleia Legislativa e também será enviado à Controladoria-Geral do Estado. O secretário estadual de Saúde, Beto Preto, garantiu que o poder público acompanha o caso de perto, e que os acusados precisam ser devidamente responsabilizados.

Em nota, a Prefeitura de Apucarana confirmou apenas que o servidor citado por Silvana está afastado das funções, e que a situação segue sendo apurada pela sindicância interna.

Por Guilherme Batista

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